segunda-feira, 26 de setembro de 2016

Domingos Montagner, talento que virou estrela, se despede de “Velho Chico” 15 dias após a morte


Personagem Santo dos Anjos - Foto: Divulgação Rede Globo
Por Jeanne Margareth

Os olhos de Domingos Montagner se fecharam, mas seu personagem Santo dos Anjos permanece vivo na novela “Velho Chico”, projetado no faz de conta, da câmera para o elenco do folhetim, e diante da compaixão e sensibilidade dos telespectadores que continuam exprimindo saudade nas redes sociais. A trama das 9 da Rede Globo termina no próximo dia 30, sexta-feira, e a última cena do protagonista gravada por Montagner, o traz admirando o rio São Francisco, onde o ator faleceu por afogamento no último dia 15.

Ator, palhaço, teatrólogo e empresário, Montagner começou a carreira no circo e teatro, mas, ganhou notoriedade por seus trabalhos em cinema e televisão. Iniciou a carreira estudando interpretação no curso de Myriam Muniz e logo depois, junto ao amigo Fernando Sampaio, formou o grupo La Mínima, com o qual ganhou o Prêmio Shell de Melhor Ator.


E não parou por aí. Apaixonado pela arte de fazer rir, fundou o Circo Zanni, dando vida ao palhaço Agenor com 1,87 cm de altura e aproximadamente 90 quilos de um humor especial, do tipo que dispensa o nariz vermelho. Para ele exercitar a auto ironia e o desapego do ego, ironizando a beleza ao pintar o rosto era fundamental e dizia: “rebaixar o ego deixa você menos ansioso e traz a sensação única que é pisar no picadeiro e arrancar gargalhadas”.





Em 2011, Montagner foi para a TV e presenteou o público com Capitão Herculano na novela "Cordel Encantado". Ao todo, foram 6 peças de teatro, 10 filmes, 12 trabalhos em televisão, 7 indicações a prêmios e 3 importantes reconhecimentos como o prêmio Melhores do Ano em 2011 e Contigo em 2012 e 2013. Apaixonante como foram seus personagens, tomou de assalto os corações brasileiros de tal forma que é difícil entender a morte estúpida do ator aos 54 anos, transformando em comoção explícita as horas que antecederam o último adeus no sábado (17), no Teatro Fernando Torres,Tatuapé, bairro da zona leste de São Paulo, onde o ator nasceu e cresceu.

Sem entender a notícia que borbulhou nas redes sociais e telejornais, um Brasil incrédulo soube na quinta-feira (15) que o ator Domingos Montagner estava morto, vítima de asfixia mecânica por afogamento, em Canindé nas Águas do São Francisco. Mesmo local, onde terminava as gravações de “Velho Chico”, e dias antes, gravou uma cena forte em que seu personagem Santo dos Anjos, a beira do rio, foi baleado e dado como morto. E na sequência, resgatado por índios locais que o trouxeram de volta à vida. Dizem que a arte imita a vida, mas aqui em uma infeliz coincidência a vida deixou de existir. 

Protetor do rio São Francisco, segundo os índios

Na sexta-feira (16), um dia após o afogamento do ator, durante o programa “Encontro com Fátima Bernardes”, o índio Tafkae da tribo indígena Fulni-ô, uma das únicas tribos do nordeste do Brasil que preservam o Yaathe língua materna e usada durante a novela, deixou uma mensagem obtida durante o ritual de luto da aldeia pelo ator. "O senhor disse: 'por que estão querendo trazer a alma dele de volta? Ele nasceu de novo hoje. Ele se tornou um novo protetor do rio São Francisco, que estava tão esquecido, porque esse rio não pode morrer'. A novela contou todos os mistérios do rio e esse é mais um deles. Mas ele se tornou um ser de luz, pois a água não tira a vida, dá a vida e fiquem felizes pela alma dele, pois quando ele entrou no rio, se despediu do corpo e alma, nasceu em um mundo melhor. Algum dia, os brancos irão entender isso, então temos que fazer um ritual para que os brancos entendam e sejam fortes, pois ele está bem. Ele, agora, é um protetor do rio São Francisco", escreveram os índios. 


O ator com a família 
Domingos Montagner deixa a esposa Luciana Lima e três filhos: Leo, 13 anos, Antônio, 8, e Dante, 5, para iluminar como estrela que é o picadeiro do céu.



Foto: Divulgação Rede Globo
“Quando me for, levarei um pouco de ti e deixarei um pouco de mim.”  (Charlie Chaplin) 

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