Personagem Santo dos Anjos - Foto: Divulgação Rede Globo |
Por Jeanne Margareth
Os olhos de Domingos Montagner se fecharam, mas seu personagem
Santo dos Anjos permanece vivo na novela “Velho Chico”, projetado no faz de
conta, da câmera para o elenco do folhetim, e diante da compaixão e
sensibilidade dos telespectadores que continuam exprimindo saudade nas redes
sociais. A trama das 9 da Rede Globo termina no próximo dia 30, sexta-feira, e a
última cena do protagonista gravada por Montagner, o traz admirando o rio São
Francisco, onde o ator faleceu por afogamento no último dia 15.
Ator, palhaço, teatrólogo e empresário, Montagner começou a carreira no
circo e teatro, mas, ganhou notoriedade por seus trabalhos em cinema e
televisão. Iniciou a carreira estudando interpretação no curso de Myriam Muniz
e logo depois, junto ao amigo Fernando Sampaio, formou o grupo La Mínima, com o
qual ganhou o Prêmio Shell de Melhor Ator.
E não parou por aí. Apaixonado pela arte de fazer rir, fundou o Circo
Zanni, dando vida ao palhaço Agenor com 1,87 cm de altura e aproximadamente 90
quilos de um humor especial, do tipo que dispensa o nariz vermelho. Para ele
exercitar a auto ironia e o desapego do ego, ironizando a beleza ao pintar o rosto
era fundamental e dizia: “rebaixar o ego deixa você menos ansioso e traz a
sensação única que é pisar no picadeiro e arrancar gargalhadas”.
Em 2011, Montagner foi para a TV e presenteou o público com Capitão
Herculano na novela "Cordel Encantado". Ao todo, foram 6 peças de
teatro, 10 filmes, 12 trabalhos em televisão, 7 indicações a prêmios e 3
importantes reconhecimentos como o prêmio Melhores do Ano em 2011 e Contigo em
2012 e 2013. Apaixonante como foram seus personagens, tomou de assalto os
corações brasileiros de tal forma que é difícil entender a morte estúpida do
ator aos 54 anos, transformando em comoção explícita as horas que antecederam o
último adeus no sábado (17), no Teatro Fernando Torres,Tatuapé, bairro da zona
leste de São Paulo, onde o ator nasceu e cresceu.
Sem entender a notícia que borbulhou nas redes sociais e telejornais, um
Brasil incrédulo soube na quinta-feira (15) que o ator Domingos Montagner estava
morto, vítima de asfixia mecânica por afogamento, em Canindé nas Águas do São
Francisco. Mesmo local, onde terminava as gravações de “Velho Chico”, e dias
antes, gravou uma cena forte em que seu personagem Santo dos Anjos, a beira do
rio, foi baleado e dado como morto. E na sequência, resgatado por índios locais
que o trouxeram de volta à vida. Dizem que a arte imita a vida, mas aqui em uma
infeliz coincidência a vida deixou de existir.
Protetor
do rio São Francisco, segundo os índios
Na sexta-feira (16), um dia após o afogamento do ator, durante o
programa “Encontro com Fátima Bernardes”, o índio Tafkae da tribo indígena
Fulni-ô, uma das únicas tribos do nordeste do Brasil que preservam o Yaathe língua
materna e usada durante a novela, deixou uma mensagem obtida durante o ritual
de luto da aldeia pelo ator. "O senhor disse: 'por que estão querendo
trazer a alma dele de volta? Ele nasceu de novo hoje. Ele se tornou um novo
protetor do rio São Francisco, que estava tão esquecido, porque esse rio não
pode morrer'. A novela contou todos os mistérios do rio e esse é mais um deles.
Mas ele se tornou um ser de luz, pois a água não tira a vida, dá a vida e
fiquem felizes pela alma dele, pois quando ele entrou no rio, se despediu
do corpo e alma, nasceu em um mundo melhor. Algum dia, os brancos irão entender
isso, então temos que fazer um ritual para que os brancos entendam e sejam
fortes, pois ele está bem. Ele, agora, é um protetor do rio São
Francisco", escreveram os índios.
O ator com a família |
Domingos Montagner deixa a esposa Luciana Lima e três filhos: Leo, 13
anos, Antônio, 8, e Dante, 5, para iluminar como estrela que é o picadeiro do
céu.
Foto: Divulgação Rede Globo |
“Quando me for, levarei um pouco de ti e deixarei um pouco de mim.” (Charlie Chaplin)
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